Mesmo garantindo tratamento da Aids gratuito e universal desde meados dos anos 90, o Brasil tem cerca de 20% dos diagnósticos da doença feitos só depois que o paciente morre.
A constatação é da pesquisadora Monica Malta, da Fiocruz, que analisou os 386.209 casos registrados no país entre 1998 e 2008 --no total, 141.004 pessoas morreram em decorrência da doença.
"Sem o diagnóstico, essas pessoas deixam de receber o tratamento que poderia fazer com que vivessem mais", diz.
"Se a pessoa morreu sem saber que tinha HIV, pode ter tido comportamento de risco sem saber que poderia estar transmitindo a doença."
O estudo, apresentado na 18ª Conferência Internacional de Aids, em julho, é o primeiro com informações nacionais, com base em quatro bancos de dados do governo.
Foram analisados todos os casos confirmados da doença, e não aqueles em que havia apenas infecção pelo HIV --em muitos casos, a pessoa tem o vírus, mas ainda não desenvolveu a Aids.
O educador social baiano Fabio Correia, 44, quase morreu sem saber que tinha a doença. Em 2000, sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) decorrente da Aids. Passou semanas hospitalizado.
"Não tinha me passado pela cabeça que eu poderia ter Aids. Nunca havia cogitado fazer o exame de HIV", diz.
O coordenador da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids, Veriano Terto Júnior, aponta problemas.
"A oferta e o acolhimento nos serviços de saúde são precários", diz. "E, por mais que seja garantido o sigilo, algumas pessoas ficam com medo da exposição."
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